domingo, 15 de setembro de 2019


UMA HISTÓRIA VITORIOSA(Aluna: Ana Clarisse Serafim Santos. 6° "b"; Escola José Pereira Sobrinho)



Meu nome é Eraldo Erasmo de Oliveira. Eu nasci em 1957, aqui mesmo no sítio Baixa do Capim, no município de Arapiraca, pertencente ao Estado de Alagoas. Por essa época prevalecia a cultura do algodão, do milho e do fumo. Aqui não havia cercas nas propriedades, mal existiam estradas ou calçadas; nem bicicletas se via por aqui. A maioria andava a pé e descalço.
Eu e muitas crianças daqui trabalhávamos para comer. Eu mesmo tinha vontade de ir à escola, mas não podia. Foi somente em 1972 que construíram uma escola, e mesmo velho eu comecei a estudar naquele ano. O terreno onde foi construída a escola fora doado por Miguel Januário, um grande companheiro e pioneiro aqui na nossa região. Ah, nas baixadas aqui do sítio havia uma área repleta de capim, por isso batizou-se a comunidade com este nome - Baixa do Capim. Criava-se gado ali, além do cultivo do fumo, como meios de sobrevivência para o povo.
Em 1975, minha primeira filha, Marileide, ia para a escola feliz, alegre e muito satisfeita. Mas quando teve que fazer o ensino médio ficou mais complicado: tinha que ir estudar na cidade. Eu tive que vender uma espingarda minha de estimação para lhe comprar passagens de ônibus para ir à escola. No entanto, vejo que valeu muito a pena. Ela foi a primeira a se formar. Tornou-se professora. Foi por esta época que havia chegado a energia elétrica. Antes disso se usava lampiões a gás ou querosene, ou mesmo velas. Para se tomar banho o costume era só fazê-lo de oito em oito dias. Banho de verdade com sabão feito de sebo. Enquanto isso nos banhávamos nos rios e açudes aqui da região durante o restante da semana.
Quando havia festa durante a Semana Santa, eu e meus amigos fazíamos bonecos de Judas com folhas de bananeira: isso era bom demais. Era a tradicional malhação do Judas. Sempre que íamos à festa, quando éramos adolescentes, tinha que ser acompanhado por um adulto, e muitas vezes meu pai não deixava sair, e eu e meus irmãos íamos para a rede chorar a noite inteira. A minha sorte e de toda a comunidade é que naquele tempo não havia tantos ladrões, mas se houvesse eles sairiam de bolsos vazios, porque a gente não tinha dinheiro, não tinha um tostão. Não nos preocupávamos como hoje com roupas ou bens materiais, tudo era mais simples e as pessoas mais humildes. Nas festas e bailes que íamos tínhamos sempre umas paqueras, mas quem namorava tinha que manter distância da namorada, pois era proibido ficar um encostado no outro. Um dia, enquanto curtia a festa, um primo meu chegou a mim e disse: "Oh, Pedrina está apaixonada por tu, viu". Eu respondi-lhe: "Eu, um pobre coitado?". Fiquei envergonhado, eu confesso. Mas graças ao meu primo-cupido hoje estou casado com ela.
Quando moleque a gente tinha medo de lobisomem e de um tal "vacinador". Quando diziam "lá vem o homem da vacina!", todo mundo corria, sobretudo as crianças. Esse medo era por causa das pessoas que ficavam inventando histórias fantasiosas sobre essas coisas. No caso do vacinador não era uma ficção, era um agente de saúde do governo. Mas quem era ignorante tinha medo de vacina. Às vezes, durante à noite, todos se sentavam em volta da fogueira. Certa vez, reunidos na frente de casa aparece no meio da noite uma luz estranha vindo em nossa direção, aí todos saíram correndo e entraram dentro de casa ou para dentro do mato, quando na verdade era somente um automóvel com seus olhos acesos, pois era raro aparecer algum ali, principalmente pela noite. No ano de 2000 fizeram aqui no sítio um restaurante chamado "Buchada do Vavá", que até hoje existe por preparar uma deliciosa Buchada de Bode. O mesmo se localiza em frente à escola e vizinho a igreja.
   Em 2004, como presidente da associação comunitária pude ajudar na construção de setenta casas de alvenaria, e assim, todos puderam ter sua própria casa. Tenho muito orgulho de contar para vocês minha história, relembrar as experiências pelas quais passamos e vivemos e que fazem parte de nós. São sempre lembranças as quais tenho prazer em contar para os mais novos, que muitas vezes ao ouvi-las, não têm ideia das lutas que travamos para que hoje muitos aqui da Baixa do Capim tenham o direito de estudar e trabalhar.