UMA HISTÓRIA VITORIOSA(Aluna: Ana Clarisse Serafim Santos. 6° "b"; Escola José Pereira Sobrinho)
Meu nome é Eraldo Erasmo de Oliveira. Eu nasci em
1957, aqui mesmo no sítio Baixa do Capim, no município de Arapiraca,
pertencente ao Estado de Alagoas. Por essa época prevalecia a cultura do
algodão, do milho e do fumo. Aqui não havia cercas nas propriedades, mal
existiam estradas ou calçadas; nem bicicletas se via por aqui. A maioria andava
a pé e descalço.
Eu e muitas crianças daqui trabalhávamos para
comer. Eu mesmo tinha vontade de ir à escola, mas não podia. Foi somente em
1972 que construíram uma escola, e mesmo velho eu comecei a estudar naquele
ano. O terreno onde foi construída a escola fora doado por Miguel Januário, um
grande companheiro e pioneiro aqui na nossa região. Ah, nas baixadas aqui do
sítio havia uma área repleta de capim, por isso batizou-se a comunidade com
este nome - Baixa do Capim. Criava-se gado ali, além do cultivo do fumo, como
meios de sobrevivência para o povo.
Em 1975, minha primeira filha, Marileide, ia para
a escola feliz, alegre e muito satisfeita. Mas quando teve que fazer o ensino
médio ficou mais complicado: tinha que ir estudar na cidade. Eu tive que vender
uma espingarda minha de estimação para lhe comprar passagens de ônibus para ir
à escola. No entanto, vejo que valeu muito a pena. Ela foi a primeira a se
formar. Tornou-se professora. Foi por esta época que havia chegado a energia
elétrica. Antes disso se usava lampiões a gás ou querosene, ou mesmo velas.
Para se tomar banho o costume era só fazê-lo de oito em oito dias. Banho de
verdade com sabão feito de sebo. Enquanto isso nos banhávamos nos rios e açudes
aqui da região durante o restante da semana.
Quando havia festa durante a Semana Santa, eu e
meus amigos fazíamos bonecos de Judas com folhas de bananeira: isso era bom
demais. Era a tradicional malhação do Judas. Sempre que íamos à festa, quando
éramos adolescentes, tinha que ser acompanhado por um adulto, e muitas vezes
meu pai não deixava sair, e eu e meus irmãos íamos para a rede chorar a noite
inteira. A minha sorte e de toda a comunidade é que naquele tempo não havia
tantos ladrões, mas se houvesse eles sairiam de bolsos vazios, porque a gente
não tinha dinheiro, não tinha um tostão. Não nos preocupávamos como hoje com roupas
ou bens materiais, tudo era mais simples e as pessoas mais humildes. Nas festas
e bailes que íamos tínhamos sempre umas paqueras, mas quem namorava tinha que
manter distância da namorada, pois era proibido ficar um encostado no outro. Um
dia, enquanto curtia a festa, um primo meu chegou a mim e disse: "Oh,
Pedrina está apaixonada por tu, viu". Eu respondi-lhe: "Eu, um pobre
coitado?". Fiquei envergonhado, eu confesso. Mas graças ao meu
primo-cupido hoje estou casado com ela.
Quando moleque a gente tinha medo de lobisomem e
de um tal "vacinador". Quando diziam "lá vem o homem da
vacina!", todo mundo corria, sobretudo as crianças. Esse medo era por
causa das pessoas que ficavam inventando histórias fantasiosas sobre essas
coisas. No caso do vacinador não era uma ficção, era um agente de saúde do
governo. Mas quem era ignorante tinha medo de vacina. Às vezes, durante à
noite, todos se sentavam em volta da fogueira. Certa vez, reunidos na frente de
casa aparece no meio da noite uma luz estranha vindo em nossa direção, aí todos
saíram correndo e entraram dentro de casa ou para dentro do mato, quando na
verdade era somente um automóvel com seus olhos acesos, pois era raro aparecer
algum ali, principalmente pela noite. No ano de 2000 fizeram aqui no sítio um
restaurante chamado "Buchada do Vavá", que até hoje existe por
preparar uma deliciosa Buchada de Bode. O mesmo se localiza em frente à escola
e vizinho a igreja.
Em 2004,
como presidente da associação comunitária pude ajudar na construção de setenta
casas de alvenaria, e assim, todos puderam ter sua própria casa. Tenho muito
orgulho de contar para vocês minha história, relembrar as experiências pelas
quais passamos e vivemos e que fazem parte de nós. São sempre lembranças as
quais tenho prazer em contar para os mais novos, que muitas vezes ao ouvi-las,
não têm ideia das lutas que travamos para que hoje muitos aqui da Baixa do
Capim tenham o direito de estudar e trabalhar.