sexta-feira, 4 de outubro de 2019



A TERRA DOS MENINOS PELADOS. Graciliano Ramos. 1ºed. Cameron, Rio de Janeiro: 2018.

Este livro – A terra dos meninos pelados – do consagrado escritor brasileiro e alagoano Graciliano Ramos foge um pouco dos modelos narrativos de obras como Vidas secas, São Bernardo ou Histórias de Alexandre. Pois essa obra dar-se a entender voltada para as crianças. No entanto, quem disse que os adultos não precisam aprender sobre o lidar com “o diferente”?
         A história é desenrolada ao longo de 23 capítulos curtos, provavelmente uma forma de não cansar o leitor mirim ou menos habituado. Mas a história é fascinante e cheia de surpresas. Animais fantásticos (falantes), seres fantásticos (objetos falantes), uma princesa, e o seu narrador – Raimundo Pelado – um menino (criança) que se sente rejeitado pelos demais colegas por ser careca, e ter um dos olhos preto e o outro azul. De fato, algo bem inusitado. No caminho de volta da escola, ao se esconder de uns garotos, acaba se perdendo e indo por um caminho que mais parece um sítio distante. Mal sabia ele que aquele caminho o levaria uma terra mágica (Tatipirum) onde as pessoas e os seres que lá habitam teriam muita afinidade com ele, e enxergariam na sua excentricidade grande beleza.
         Um traço interessante da obra em questão é a construção de imagens narrativas de caráter pictórico, ou seja, que em suas passagens remetem a desenhos animados ou a pinturas surrealistas(retrata os sonhos). Um ótimo exercício de imaginação. Mesmo sendo eu adulto, acho que sou, eu particularmente aprecio desenhos animados e ler obras consideradas infantis. Mas devemos ter cuidado com obras que infantilizam as pessoas, ou seja, que não apresentam senso crítico, apenas reproduzem preconceitos e estereótipos da sociedade. O que não é o caso da obra A terra dos meninos Pelados.


         Esta obra, entre outras questões, trata das pessoas “especiais”, nos aponta que não há nada de mais em ser semelhante ao outro, igualmente não há nenhum problema em ser diferente. Em todos lugares que formos nos depararemos com ambas as situações. Isso fica claro, pelo fato de Raimundo descobri aquela terra maravilhosa, onde todos o respeitam, e têm traços físicos com o menino-narrador, e apesar do acolhimento, ele não quer deixar de voltar para casa, para a escola, e encarar o “choque” das diferenças. Será que aqueles meninos da escola ainda zombariam dele por ser diferente?

         Em Tatipurum, Raimundo fez muitas amizades. Ele vai embora, mas promete a todos voltar para visitá-los. Ele aprende a amar a singularidade de cada ser com qual estabeleceu amizade. E no fundo, isso é o mais importante. Esta obra pelo que percebemos é atualíssima, pois mais do que nunca vivemos o drama da exclusão social e do preconceito no nosso cotidiano: preconceito pela cor, sexualidade, origem social, pela linguagem, pelo grau de escolaridade, pela capacidade física. Enfim, é um combate o qual a educação tem um instrumento mais do útil, necessário – O livro – letramento literário e sensibilização através da arte. Eis o grande desafio.

RESENHA escrita por Carlos Henrique Ferreira Nunes.