RESENHA
DO LIVRO: JORGE COOPER – OBRA COMPLETA
Se é possível compará-lo a outros
poetas contemporâneos, sejam de nossa terra ou estrangeiros, é porque o discurso,
como diria Mikhail Bakhtin, tem uma natureza dialógica. Mas por outro lado, é
evidente a singularidade intrínseca a natureza estrutural ou seria des-estrutural
que se impõe na poética coopernicana. Sua autenticidade advém de seu caráter,
de seu jeito poético de ser. O poeta admite em entrevista concedida ao também
poeta e jornalista Ricardo Oiticica, que jamais deixou de escrever, mesmo nos
momentos difíceis.
Ledo Ivo considera Cooper um vanguardista,
um poeta do cotidiano, do tempo presente, e portanto, dos dilemas de nossa
vida. Aí percebe-se certo grau de realismo, talvez originado de sua simpatia
pelo materialismo histórico de Karl Marx. O tempo representado em sua obra através
da memória tátil das experiencias não é o tempo linear e bem calculado, mas
antes é o tempo das emoções e sensações vividas e experimentadas pelos sujeitos
em contextos reais.
Em Jorge Cooper, nos diz Ledo
Ivo “partimos do sonho e da escuridão para a vida real e a claridade”. Sua
poesia é um “tapa na cara” Com palavras breves e versos curtos e desconcertantes,
com versos brancos e livres liberam a palavra de qualquer amarra, para que
cumpram a função de dizer o que tem que ser dito:
Eu sou
nos meus poemas
Eles têm o número exato
de palavras e
o tamanho em que
a inspiração se coube
- Eles são como a clara e a gema
no ovo
(Precisamente assim
como eu caibo em mim)
Sua sonoridade e ritmo vem das
assonâncias e consonâncias (repetição de sons vocálicos e consonantais) postas
num mesmo verso, ou em versos intercalados, mas que garantem notável peculiaridade.
Ele era de fato, como se pode perceber, um poeta liberto de regras. O seu padrão
era não ter um padrão. Deixar que a palavra flua sem condicionamentos.
Que pena que este poeta alagoano
não tenha tido o real valor reconhecido em vida, mas por outro lado, fiquemos
felizes que a academia começa agora a resgatar o trabalho deste poeta por excelência,
que fez de suas experiências a matéria viva capaz de fotografar e imortalizar
imagens ao mesmo tempo tão cotidianas e atemporais. Vale apena apreciar e
valorizar este nosso conterrâneo.
REFERÊNCIAS:
COOPER, Jorge. Poesia Completa. 2° ed.
Imprensa Oficial Graciliano Ramos: Maceió, 2011.